Desenvolvimento de Sistemas de Informação Geográfica no Brasil: Desafios e Oportunidades

Gilberto Câmara
Divisão de Processamento de Imagens- DPI
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - INPE

Palestra proferida na Semana de Geoprocessamento do Rio de Janeiro

Outubro de 1996


1. OS DESAFIOS DA GLOBALIZAÇÃO

1.1 O Cenário

O termo "globalização", utilizado para descrever o processo recente de evolução do capitalismo, reflete o aprofundamento de algumas tendências já embrionárias nos anos 70 e 80. Nesse processo, os ganhos de produtividade e escala engendrados pela evolução tecnológica e pela expansão dos mercados permitiram o aparecimento de corporações que atuam em todo o planeta, combinando a produção industrial com a atuação no setor de serviços.

O cenário se completa com a concentração do setor produtivo. A enorme escala de investimentos necessários e o alto custo de inserção global tendem a um processo de concentração que habilitará apenas um conjunto restrito de empresas a competir ferozmente por preço e qualidade para cada tipo de produto. Visto nesta perspectiva, as tendências de globalização estão produzindo um cenário aonde um conjunto pequeno de corporações mundiais estarão decidindo o que, como, quando e onde produzir os bens e serviços utilizados pelos seres humanos.

Nos anos 70 e 80, a força da inovação trazida pelo microprocessador deu a oportunidade de formação de inúmeras pequenas empresas de Informática, com muito talento e algum capital especulativo (venture capital). A consciência desta oportunidade entusiasmou vários países, entre eles o Brasil, que estabeleceu a tão vilipendiada quão pouco discutida reserva de mercado para a informática (para uma análise qualificada sobre o tema, veja-se Rosenthal e Meira, 1995).

Nessa indústria, o processo de globalização está levando a uma concentração precoce e sem precedentes. Este processo pode ser resumido na seguinte forma: os avanços científicos e tecnológicos engendram um novo paradigma, com um novo nicho de mercado. De início, um conjunto amplo de empreendedores se lança na tentativa de ocupar este espaço. Após alguns anos de guerra comercial, a tendência é que não mais que cinco produtos (e às vezes apenas um ou dois) ocupem mais de 80% do mercado, tornando extremamente difícil a entrada de novos concorrentes. Alguns exemplos:

1.2 Evolução da Tecnologia de Geoprocessamento

Internacionalmente, a década de 80 representa o momento quando a tecnologia de sistemas de informação geográfica (SIG) inicia um período de acelerado crescimento que dura até os dias de hoje (Goodchild, 1991). Até então limitados pelo alto custo do hardware e pela pouca quantidade de pesquisa específica sobre o tema, os SIG se beneficiaram grandemente da massificação causada pelos avanços da microinformática e do estabelecimento de centros de estudos sobre o assunto. Nos EUA, a criação dos centros de pesquisa que formam o NCGIA - National Centre for Geographical Information and Analysis (NCGIA, 1989) marca o estabelecimento do Geoprocessamento como disciplina científica independente.

Na setor de SIG, à semelhança dos demais segmentos da Informática, vem ocorrendo um processo de concentração, com uma significativa presença de poucas empresas, que atuam globalmente, com representantes nos principais países.

Para o cliente, à primeira vista, este cenário pode parecer reconfortante. Afinal, trata-se de reduzir a escolha e utilizar o processo natural de depuração do mercado para realizar uma seleção entre os produtos. No entanto, este processo de concentração reduz em muito a capacidade das empresas e instituições produzir soluções inovadoras, o que é particularmente grave no setor de SIG. Ao contrário de outras áreas da Informática (como bancos de dados relacionais), o Geoprocessamento ainda não possui um embasamento científico consolidado e abriga significativo número de desafios em aberto, inclusive:

Deste modo, a consolidação precoce da tecnologia de Geoprocessamento em alguns poucos produtos pode efetivamente privar os usuários de ter acesso a soluções adequadas e de melhorar a qualidade de seus estudos e projetos.

1.3 A Situação Brasileira

O impacto da globalização sobre países emergentes como o Brasil é duplamente dramático. Enfrentamos uma situação contraditória aonde se combina uma desigualdade social sem precedentes com um processo de inserção competitiva no mercado internacional. Os efeitos deste processo estão em livre curso na sociedade brasileira, atingindo indústrias, bancos e trabalhadores.

O grande dilema enfrentado por todos os componentes da sociedade brasileira neste início de século XXI é como enfrentar os desafios da globalização e como aproveitar as eventuais oportunidades engendradas pelo processo de integração competitiva do Brasil na economia internacional.

Em que medida ainda existem oportunidades para os nossos produtos ? Será que o mercado está ocupado ? Quais as chances de ter sucesso na exportação de software ? Quais são os nichos de mercado onde podemos concorrer ? A resposta a estas questões deve resultar de um esforço de reflexão coletivo. Este trabalho pretende fornecer alguns indicadores, fruto da experiência do INPE em desenvolver metodologias e sistemas. Na Seção 2, apresentamos uma visão geral dos segmentos de mercado em Geoprocessamento no Brasil. Na Seção 3, discutimos o histórico e as perspectivas dos projetos desenvolvidos no INPE; fazemos ainda uma retrospectiva de desenvolvimentos de SIGs realizados no Brasil por empresas e universidades. A seção 4 apresenta um balanço de resultados. A seção 5 aponta algumas perspectivas de ação futura.


2. Segmentação do Mercado de Geoprocessamento no Brasil

Numa visão bastante geral, podemos dividir o setor de Geoprocessamento no Brasil em quatro segmentos:

Pode-se constatar que cada segmento apresenta características próprias e requer soluções específicas, fato nem sempre compreendido pelos usuários. Na área de Geoprocessamento, a distância entre a compra do software e um resultado operacional por parte do usuário é muito grande, pois envolve aspectos como a geração de dados geográficos, disponibilidade de metodologias de trabalho adequadas e mecanismos de divulgação dos resultados obtidos. Por força destes fatores, são poucos os projetos coerentes com mais de 5 anos de implantação e resultados concretos em nosso País.


3. O Desenvolvimento de Tecnologia de Geoprocessamento no Brasil

3.1 Breve Histórico

A introdução do Geoprocessamento no Brasil inicia-se a partir do esforço de divulgação e formação de pessoal feito pelo prof. Jorge Xavier da Silva (UFRJ), no início dos anos 80. A vinda ao Brasil, em 1982, do Dr. Roger Tomlinson, responsável pela criação do primeiro SIG (o Canadian Geographical Information System), incentivou o aparecimento de vários grupos interessados em desenvolver tecnologia, entre os quais podemos citar:

Mais recentemente, o grupo do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da TELEBRÁS (CPqD) iniciou o desenvolvimento do SAGRE (Sistema Automatizado de Gerência da Rede Externa), uma extensiva aplicação de Geoprocessamento no setor de telefonia. Construído com base num ambiente de um SIG (VISION) com um banco de dados cliente-servidor (ORACLE), o SAGRE envolve um significativo desenvolvimento e personalização de software.

3.2 Atuação do INPE no Desenvolvimento Tecnológico

Descrevemos a seguir em maior detalhe o histórico do INPE, dividido em três períodos: aprendizado e formação inicial da equipe (1974-1984), desenvolvimento do SITIM/SGI (1984-1990), atualização tecnológica (1991-1996).


3.2.1 Aprendizado e formação da equipe (1974-1984)

Em 1974, o INPE comprou, por US$ 1 milhão, um sistema de processamento de imagens da GE, chamado "IMAGE-100". Tecnologia no estado-da-arte da época, era controlado por um PDP/11-45 (com 128 KB de memória) e possuía memória de vídeo de 512 x 512 "pixels" (usando "shift registers" de 1KB). Por muito tempo, foi o único sistema de processamento digital de imagens de satélite em operação no País.

O IMAGE-100 trazia um mínimo de funções de processamento de imagens, o que motivou a montagem de equipe de desenvolvimento para implementar algoritmos (como filtragem, classificação e registro de imagens). Ao mesmo tempo, foi iniciado um programa acadêmico de formação de pessoal, sob a liderança do prof. Nélson Mascarenhas.


3.2.2 Desenvolvimento do SITIM/SGI (1984-1990)

O advento dos primeiros microcomputadores PC/XT em 1984 foi um grande motivador para o desenvolvimento de soluções que pudessem permitir a difusão da tecnologia. Os principais resultados do período foram o SITIM (Sistema de Tratamento de Imagens) e o SGI (Sistema de Informações Geográficas), para ambiente PC, com um investimento de mais de 100 homens-ano e 250.000 linhas de código. Foram ainda desenvolvidos dispositivos gráficos e interfaces de leitura de fita para permitir a utilização de microcomputadores padrão IBM/PC em aplicações de processamento de imagens e geoprocessamento. (Erthal et al., 1986; Souza et al., 1990).

Um conjunto significativo de projetos ambientais foi desenvolvido utilizando-se o SITIM/SGI, podendo-se citar: (a) o levantamento dos remanescentes da Mata Atlântica Brasileira (cerca de 100 cartas), desenvolvido pela IMAGEM Sensoriamento Remoto, sob contrato do SOS Mata Atlântica; (b) a cartografia fito-ecológica de Fernando de Noronha, realizada pelo NMA/EMBRAPA; (c) o mapeamento das áreas de risco para plantio para toda a Região Sul do Brasil, para as culturas de milho, trigo e soja, realizado pelo CPAC/EMBRAPA; (d) o estudo das características geológicas da bacia do Recôncavo, através da integração de dados geofísicos, altimétricos e de sensoriamento remoto, conduzido pelo CENPES/Petrobrás. Almeida Filho e Castelo Branco (1992) e Almeida Filho (1995) apresentam resultados de projetos de prospeção mineral que utilizaram o SITIM/SGI. Assad e Sano (1993) apresentam um conjunto significativo de resultados do SITIM/SGI na área agrícola.

Três são as principais características do SITIM/SGI:


3.2.3 Atualização Tecnológica (1991-1996)

No início dos anos 90, com o fim da reserva de mercado e o aparecimento de ambientes baseados em janelas (PC/Windows e estações de trabalho UNIX), a equipe do INPE teve de tomar uma difícil decisão: adaptar a estes ambientes uma tecnologia estabilizada, mas datada (SITIM/SGI) ou enfrentar o desafio de desenvolver uma nova geração de sistemas, e que incorporasse avanços recentes de pesquisas e estudos no setor.

A opção escolhida foi desenvolver o SPRING (Sistema para Processamento de Informações Geográficas), que unifica o tratamento de imagens de Sensoriamento Remoto (ópticas e microondas), mapas temáticos, mapas cadastrais, redes e modelos numéricos de terreno (Câmara et al, 1996). Baseado em um modelo de dados orientado-a-objetos, combina as idéias de "campos" e "objetos geográficos", e incorpora resultados do estado-da-arte em integração de dados em Geoprocessamento (NCGIA, 1989; Goodchild, 1992; Couclelis, 1992; Worboys, 1995).

O projeto SPRING possui uma forte ligação com as atividades de pesquisa e desenvolvimento do INPE, situação que permite incorporar ao sistema resultados inovadores, entre os quais pode-se citar:

No processo de desenvolver o SPRING, a equipe enfrentou vários desafios técnicos, incluindo o desenvolvimento de aplicativos gráficos em sistemas de janelas (X Window e MS/Windows). Em comparação com o ambiente DOS (onde o sistema comanda o usuário), num ambiente de janelas o usuário comanda o sistema através de manuseio do "mouse" e do teclado, o que gera inúmeros problemas para digitalização e edição de dados. Outro desafio importante foi o desenvolvimento de soluções multiplataforma, que levassem em conta as diferenças entre as diferentes versões do UNIX (Sun, IBM, Silicon Graphics e HP) e a incompatibilidade dessas com o ambiente MS/Windows. Finalmente, havia a questão de manter uma interface tão simples de utilizar como havia sido o SITIM/SGI.

Em função dos desafios técnicos enfrentados e da complexidade do produto, o desenvolvimento progrediu de forma mais lenta que o desejado. A versão 1.1, lançada em dezembro de 1994, já permitiu a realização de estudos ambientais importantes (Alves et al, 1996). A equipe do INPE espera que, a partir do lançamento da versão 2.0 do SPRING (ocorrido em agosto/96), amplie em muito o conjunto de projetos realizados nesta tecnologia.


4. O Futuro do Desenvolvimento Tecnológico no INPE

Num momento em que o Estado está em crise e buscando reorganizar-se e encontrar um novo papel, qual o futuro do desenvolvimento tecnológico em instituições como o INPE ? Não há sentido em apenas produzir um "clone" de produtos importados, pois o desafio está em produzir novos resultados numa área aonde desafios não cessam de surgir. Também é desaconselhável que o INPE assuma um papel de empresa comercial, atuando como concorrente direto dos demais produtos do mercado.

Assim, o futuro da tecnologia no INPE está profundamente ligado a dois aspectos: a competência de produzir inovação e incorporá-la de forma eficiente aos produtos, e a capacidade para difundir as metodologias e o conhecimento associado. Neste contexto, vale a pena examinar os novos paradigmas tecnológicos e apresentar uma nova política de difusão do software do INPE.

4.1 Os Novos Paradigmas Tecnológicos

O exercício de prospeção tecnológica é sempre arriscado e requer um esforço coletivo no qual é sempre fácil acertar a posteriori. Feitas as ressalvas necessárias, gostaríamos de apontar alguns princípios gerais, nos quais baseamos nossa estratégia de desenvolvimento tecnológico:

  1. A Internet, como mecanismo de difusão de informação, é o vetor tecnológico singular deste início de século XXI.
  2. As demandas crescentes do setor de Geoprocessamento por mecanismos que garantam a interoperabilidade serão uma das forças motrizes da área de GIS em termos internacionais.
  3. As novas gerações de sistemas sensores (ópticos de alta resolução, radar e hiperespectrais) irão requerer um grande esforço de pesquisa e desenvolvimento em algoritmos e técnicas de extração de informação em imagens.
  4. A integração de centros de dados espaciais (também chamados de bibliotecas geográficas digitais) passa a ser relevante em instituições nacionais como a EMBRAPA, IBGE e INPE que acumularam grandes volumes de informação geográfica.
  5. A simplicidade e facilidade de uso devem ser características fundamentais de qualquer produto destinado ao mercado brasileiro.
  6. A exigência crescente de qualidade nos produtos de Informática requer o contínuo aprimoramento em técnicas de desenvolvimento de sistemas, como sistemas distribuídos, programação orientada-por-objetos e gerenciamento de projetos de software.

Saber utilizar a Internet no ambiente de Sensoriamento Remoto e Geoprocessamento é um desafio crucial para a Brasil. As tecnologias emergentes (entre as quais se encontram ferramentas como Java) poderão revolucionar a maneira como é feito o acesso à informação geográfica. De um lado, poderíamos ter grandes bancos de dados espaciais, com mecanismos eficientes de acesso e busca da informação ("data mining"). Na outra ponta, uma interface amigável permitiria a fácil navegação pelos dados, sem a necessidade de montar um banco de dados local e converter os dados de outro sistema.

4.2 Uma Nova Política de Difusão do Software do INPE

Até o presente momento, o INPE tem adotado a política de distribuição de seu software através de empresas licenciadas, que dispõem de contratos de comercialização de software e são responsáveis pelo atendimento, personalização, treinamento e instalação do sistema nos usuários. Muito embora esta política seja adequada para o caso de empresas, representa um fator limitante para instituições de ensino e pesquisa.

O INPE optou por simplificar o acesso à sua tecnologia para instituições de ensino e pesquisa, em especial para os ambientes UNIX, comuns nestas instituições. Sua nova política será tornar amplamente disponível o SPRING, para todas as instituições conveniadas ao INPE. A médio prazo, o sistema deverá ser colocado na Internet, para permitir que instituições de pesquisa tenham livre acesso aos produtos e empresas possam instalar versões de avaliação.

5. Balanço de Resultados e Perspectivas do Mercado

Em função da análise realizada até o momento, é importante fazer um balanço dos resultados, dividindo-o em duas partes: os aspectos de capacitação tecnológica e capacidade de inovação dos produtos nacionais e as questões comerciais.

5.1 Análise das Capacitação Tecnológica Nacional em GIS

Por que e para que desenvolver tecnologia de GIS no Brasil ? A razão principal está no enorme potencial das tecnologias de Sensoriamento Remoto e Geoprocessamento em nosso País. A grande carência de mapeamento básico e temático em diferentes escalas no Brasil requer o contínuo investimento em técnicas de extração de informação de imagens de satélite e de integração de dados. Nossos procedimentos de gestão territorial são incipientes e nosso processo de planejamento nem sempre está baseado em análises solidamente embasadas.

Neste cenário, consideramos que o uso de sistemas como o MaxiCAD, SITIM/SGI e SAGA serviu para difundir a tecnologia de Geoprocessamento entre os usuários brasileiros. Com base neste raciocínio, pode-se estabelecer uma equação para medir nossa chance de sucesso:

resultados_GIS = software + metodologia + qualificação_usuário

Considerando a equação acima, em que situações a tecnologia brasileira pode produzir um resultado melhor que as alternativas internacionais? Para responder, há que considerar os diversos termos:

Resumindo a discussão acima: nossa tecnologia tem melhores chances quando a soma dos termos da equação nos for favorável. Assim, podemos considerar que as possibilidades de ter produtos competitivos são muito maiores aonde o desenvolvedor brasileiro e seus parceiros tem condições de adicionar valor em cada um dos termos.

5.2 Aspectos de Mercado

Este é o maior problema na produção de software brasileiro. Software só se realiza no mercado. Nenhum software está pronto ao ser lançada sua primeira versão. Quem corrige muitos problemas do software (erros não óbvios, distorções de enfoque e público alvo) são seus usuários.

O mercado americano de informática é cerca de 20 vezes superior ao brasileiro. Além disso, muitas empresas americanas tem o hábito de comprar novos produtos, para avaliar suas potencialidades, e o consumidor americano é exigente e valoriza a competitividade.

A contrapartida da dimensão do mercado americano é a pequenez de nosso. Manter uma empresa no Brasil com 4 bons analistas e uma equipe de 3 pessoas de suporte e vendas custa pelo menos US$ 500.000/ano. Considerando ainda que, na área de Geoprocessamento, o preço unitário dos produtos vem caindo a cada ano, chega-se a uma conclusão óbvia: não é possível manter uma "software-house" que atue apenas no desenvolvimento e venda de software para o mercado brasileiro. Este raciocínio implica que as empresas do setor (que desenvolvem tecnologia) devem basear ativamente a participação no setor de serviços; indica ainda um papel importante para os grupos de pesquisa brasileiros: ser provedor de tecnologia básica em que possa ser adaptada pelas empresas às necessidades do cliente.

Outro desafio importante é a internacionalização dos produtos. Além dos problemas usualmente enfrentados pelos demais produtos de informática, os SIGs precisam de importante investimento local para implantação (o raciocínio apresentado no item anterior vale ao contrário). Para ter sucesso em mercados como o americano, é fundamental dispor de forte estrutura de atendimento e "marketing", além de enfrentar o problema particular de SIG de prover ferramentas de conversão de dados. As empresas do setor tem de saber utilizar a Internet como suporte para atuação, tanto no mercado local quanto no internacional.

6. Conclusões

Este trabalho levantou alguns dos desafios e oportunidades enfrentados pelas equipes de instituições de pesquisa e empresas que desenvolvem tecnologia de Geoprocessamento no Brasil. Os argumentos apresentados apontam no sentido de uma abordagem global para o atendimento aos clientes: prover o software, a metodologia e a capacitação.

Num cenário de abertura de mercados, o papel de institutos de pesquisa como o INPE deve ser duplo: manter a capacidade tecnológica em produzir inovações e ter uma política de apoio à formação de especialistas e de atuação de empresas. Produzir inovações é essencial para justificar a validade de desenvolver SIGs no Brasil, pois permite aportar diferenciais concretos aos usuários. Dispor de uma política aberta ao setor empresarial também é fundamental para diminuir a carga de investimento necessária para atuação no setor.

Apesar de todos os problemas enfrentados, comuns às instituições públicas, o INPE tem conduzido, nos últimos 20 anos, uma trajetória consistente de desenvolvimento tecnológico, que contribuiu (conjuntamente com grupos como a UFRJ, MaxiData, EMBRAPA, UnB) para construir uma cultura de Geoprocessamento no Brasil.

Num momento de explosão do mercado e de grande expectativa com os benefícios que o Geoprocessamento pode trazer ao Brasil, acreditamos firmemente que só resta um trajetória possível: continuar investindo e seguir acreditando que há um espaço sólido a ser ocupado pela ciência e tecnologia brasileira.

REFERÊNCIAS

AGUIAR, A.P.D. "Utilização de atributos derivados de proporções de classes em um pixel na classificação multiespectral de imagens de Sensoriamento Remoto". Dissertação de Mestrado em Sensoriamento Remoto, INPE, 1991.

ALMEIDA FILHO, R.; CASTELO BRANCO, R. M. G.. 1992. Location of Kimberlites using Landsat Thematic Mapper Images and Aerial Photographs: the Redondão Diatreme, Brazil. International Journal of Remote Sensing, 13 (8): 1449-1457.

ALMEIDA FILHO, R. 1995. Integração, manipulação e análise espacial na pesquisa mineral através de modelos empíricos de prospecção: um exemplo no Planalto de Poços de Caldas. Revista Brasileira de Geofísica, 13 (2): 127-142.

ALVES, D. S.; MOREIRA, J.C.; MELLO, E.K.; SOARES, J.V.; FERNANDEZ, O.; ALMEIDA, S.; ORTIZ, J.D. "Mapeamento do Uso da Terra em Rondônia utilizando ténicas de segmentação e classificação de imagens LANDSAT-TM". Anais do VIII Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto, Salvador, April de 1996.

ASRAR, G.; DOZIER, J. EOS: Science Strategy for the Earth Observing System. Woodbury, NY, AIP Press, 1994.

ASSAD, E.D.; SANO, E.E. Sistemas de Informações Geográficas - Aplicações na Agricultura. Brasília, EMBRAPA, 1993.

BANON, G.J.F; BARRERA, J. 1989. "Morphological filtering for stripping correction of SPOT images". Photogrammetria, 43(3):195-205.

BINS, L.; ERTHAL, G.J.; FONSECA, L.M.G. "Um método para classificação não-supervisionada de regiões". In: VI SIMPÓSIO BRASILEIRO DE COMPUTAÇÃO GRÁFICA E PROCESSAMENTO DE IMAGENS, Recife, 1993. Anais, Recife, UFPe/SBC, pp. 65-68, 1993.

BINS,L.; FONSECA, L.M.; ERTHAL, G.J.; MITSUO II, F. "Satellite Imagery Segmentation: a Region Growing Approach". Anais do VIII Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto, Salvador, April de 1996.

CÂMARA,G. Modelos, Linguagens e Arquiteturas para Bancos de Dados Geográficos. Tese de Doutorado em Computação Aplicada, INPE, São José dos Campos, dezembro de 1995.

CÂMARA, G; CASANOVA, M.A.; HEMERLY, A.; MAGALHÃES, G.C.; MEDEIROS, C.M.B. Anatomia de Sistemas de Informação Geográfica. UNICAMP, 10a. Escola de Computação, 1996.

CÂMARA, G.; SOUZA, R.C.M.; FREITAS, U.M.; GARRIDO, J.C.P. "SPRING: Integrating Remote Sensing and GIS with Object-Oriented Data Modelling". Computers and Graphics, vol.15 , n.6, July 1996.

CLARK, D.M.; HASTINGS, D.A.; KINEMAN, J.J. "Global Databases and their Implication for GIS". In: In: MAGUIRE, D.J.; GOODCHILD, M.; RHIND,D.W. (eds.) Geographical Information Systems: Principles and Applications. Longman, London, vol 2, pp.217-245.

CORDEIRO,J.P.C.; AMARAL,S.; FREITAS,U.M.; CÂMARA, G. "Álgebra de Geo-Campos e Suas Aplicações". Anais do VIII Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto, Salvador, April de 1996.

COUCLELIS,H. "People Manipulate Objects (but Cultivate Fields): Beyond the Raster-Vector Debate in GIS". In: Proc. International Conference on GIS - From Space to Territory: Theories and Methods of Spatial Reasoning. Springer Lecture Notes on Computer Science, vol. 639, pp. 65-77, 1992.

DAVIS, L.; SIMONETT, W.. "GIS and Remote Sensing". In: In: MAGUIRE, D.J.; GOODCHILD, M.; RHIND,D.W. (eds.) Geographical Information Systems: Principles and Applications. Longman, London, vol 1.

ERTHAL, G.J.; OLIVEIRA, M.O.B.; FELGUEIRAS, C.A.; CÂMARA, G.; PAIVA, J.A. "O Banco de Dados Geográficos do INPE". I Simpósio Brasileiro de Banco de Dados, Rio de Janeiro, RJ, abril de 1986.

FONSECA, L.M.G.; PRASAD, G.S.S.D.; MASCARENHAS, N.D.A. "Combined interpolation - restoration of Landsat images through FIR filter design techniques". International Journal on Remote Sensing, 14(13), 2547-2561, 1993.

FRERY, A.C. Algumas Ferramentas Estatísticas na Síntese, Processamento e Análise de Imagens de Radar de Abertura Sintética. Tese de Doutorado em Computação Aplicada, São José dos Campos, INPE, 1993.

GOODCHILD, M. "The Technological Setting of GIS". In: MAGUIRE, D.J.; GOODCHILD, M.; RHIND,D.W. (eds.) Geographical Information Systems: Principles and Applications. Longman, London, vol 1, pp.45-54.

GOODCHILD, M. "Geographical data modeling". Computers & Geosciences, 18(4): 401-408, 1992.

NAMIKAWA, L.M. Um método de ajuste de superfície para grades triangulares considerando linhas características. Dissertação de Mestrado em Computação Aplicada - INPE, São José dos Campos, 1995.

NCGIA, "The Research Plan for the National Center for Geographical Information and Analysis". International Journal of Geographical Information Systems, 3(2):117-36, 1989.

ROSENTHAL, D.; MEIRA, S.R.L. Os Primeiros 15 Anos da Política Nacional de Informática: o Paradigma e sua Implementação. Recife, ProTem/CC, 1995.

SOUZA,R.C.M.; CÂMARA,G.; ALVES,D.S. "O desenvolvimento de sistemas de informação geográfica e de processamento digital de imagens no INPE". Anais do I Simpósio Brasileiro de Geoprocessamento, p.168-173, SP, mai, 1990.

TATEISHI, R. (ed.) International Worskhop on Global GIS. Proceedings. Tokio, ISPRS Working Group IV/6, 1993.

TOWNSHEND, J.R.G. "Environmental Databases and GIS". In: In: MAGUIRE, D.J.; GOODCHILD, M.; RHIND,D.W. (eds.) Geographical Information Systems: Principles and Applications. Longman, London, vol 2, pp.201-216.

WORBOYS, M.F. GIS: A Computing Perspective. London, Taylor and Francis, 1995.

XAVIER DA SILVA, J.; ALMEIDA, L.F.B.; CARVALHO, L.M. "Geomorfologia e Geoprocessamento". In: Cunha, S.B; Guerra, A.J.T. (orgs). Geomorfologia: Exercícios, Técnicas e Aplicações. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, pp.283-309, 1996.